terça-feira, 25 de setembro de 2012

O Tatu morreu na Jornada, renasce na Copa. É a reencarnação mais rápida que já vi!


Sobre a morte da Jornada - Carollini Assis 

A Jornada Internacional de Cinema da Bahia, como disse um amigo, “é um filho que cresceu e foi para o mundo”. Não é de propriedade de seu criador, o cineasta Guido Araújo. Tornou-se sem fronteiras e sem dono, e a Guido, que a conduziu, cabe o mérito de ter desconfigurado suas fronteiras, limites e linhas demarcatórias.

Justamente por ser do mundo, é que consegue ainda ter quixotes que se levantem contra moinhos de vento, nos mais diferentes caminhos. Pessoas que lutam por sua permanência e continuação. Há sementes plantadas nos corações mais distos, há sementes solitárias plantadas em mundos equidistantes. Há sementes de um mundo melhor. A mensagem se chegou em mim, deve também ter chegado a muitas outras pessoas.

A verdade é que não só mataram a Jornada como um evento de acontecimento notório dentro do nosso panorama cinematográfico. Mataram a jornada dentro daqueles que a realizavam e dela participavam, dentro dos velhos lobos que hoje não irão à sua abertura; mataram a Jornada burocraticamente falando também; decretaram que ano que vem será a última e provavelmente será. Sabe o que me deixa estática: ver uma classe engolir esse discurso, por mais que hajam questionamentos a serem feitos na condução. Cuidado! Daqui a 40 anos pode ser o seu evento que estará morto. Será que quixotes se levantarão em sua defesa? O mundo pode já ter perdido a sua humanidade... 

A forma se sobrepôs ao espírito e hoje em dia, principalmente na cultura, não se enxerga mais o espírito das coisas, e sim a forma, a “fôrma”, o enquadramento, o preenchimento dos campos em branco, o projeto, o orçamento. Quando não se olha o espírito, não se vê além do que se quer. As críticas são inúmeras: um formato esgotado, ultrapassado, centralizador, um encontro de amigos, uma desorganização. Vocês só viram isso? Acreditam aí, em seus corações, que pode o cinema tornar o mundo mais humano?

Se mataram o espírito da Jornada, realmente ela já está morta. Sinto pelos mais de 5 mil curtas exibidos e não sei quantos mil longas de países da África, Europa, Ásia, Américas. Sinto pelos realizadores que por lá passaram. Por mim, que só estive lá como público. Em mim a Jornada nunca morrerá. Porque para mim a Jornada foi tudo o que dela trouxe para o meu mundo. O resto “é gordura”, como dizia meu amigo Lula Wendhausen, ao se referir a excessos textuais num roteiro.

Ouvi falar pela primeira vez em identidade latinoamericana, com tanta convicção e sentimento de pertencimento, na Jornada. Vinda do interior, eu conhecia os EUA, mas o Suriname para mim era tão distante quanto Netuno ou Plutão. Assisti extasiada a Orlando Senna e Fernando Birri falarem sobre que cinema era esse, o latino. Sobre uma escola de todos os mundos, um reduto de liberdade dentro de uma ilha governada por um regime ditatorial. Seria isso verdade?

Assisti filmes de nacionalidades às mais diversas; o jovem escritor angolano Ondjaki, de Oxalá cresçam pitangas, que vi na Jornada... Não o conheci na literatura e sim no cinema. A obra de Siri, um dos inúmeros homenageados, até hoje me pergunto onde eu a assistiria se não na Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Sobre memória, acho que ninguém tem o que falar.

Hoje a Jornada tem início, a 39ª edição. Sem uma linha na grande imprensa. Não é anunciante, já teve escândalos envolvendo o evento, está esgotada... Enfim, sabe qual é o meu sentimento? É como o de Drummond, "não serei o poeta de um mundo caduco, também não cantarei o meu futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros, estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças..."


Eu espero encontrar alguém por lá. Eu estarei lá. Se não a vi nascer, a verei morrer ou quem sabe, renascer. É minha obrigação de alma porque acredito no espírito das coisas - ele é quem vai adiante de quem as faz, torna qualquer ato mais grandioso que o próprio autor, o espírito é Tempo. O espírito é utopia, sonho, humanidade. Essas coisas em que não se acreditam mais. Por falar nisso, quem for ao enterro do tatu-bola, verá seu renascimento simbólico na Copa do Mundo em 2014. Business, meus caros. É isso o que interessa à humanidade.  

2 comentários:

  1. Nota de repúdio.

    DESUMANIDADE, DESONESTIDADE, IRRESPONSABILIDADE OU DESORGANIZAÇÃO?

    Me chamo Antônio Ferreira Neto (Tony Neto) e estava, até 29/09, sábado, às 3:00 horas, participando da 39° Jornada Internacional de Cinema da Bahia. Com muita dedicação, divulgando a Jornada e convidando todos a assistirem a meus vídeos, tive a grata surpresa de ficar, por diversas vezes em primeiro lugar geral na competição, através de juri popular, com votação online.
    A Jornada também encerra em 29/09, sábado, com solenidade às 19 horas e, curiosamente, quando estava em primeiro lugar, às vésperas do fim da mostra, fui comunicado que minha participação estava cancelada, pois eu estaria infringindo um item do edital. Recebi a seguinte mensagem:

    Art. 5. Cada concorrente só pode participar do concurso com um trabalho.
    “O sr. possui dois filmes inscritos e participando do concurso, o que evidentemente nao é permitido.
    A organização, com os poderes legais que lhe são atribuidos pelo regulamento, decidiu excluir a sua participação no referido concurso. [Assina Nelia Belchote - Diretora]

    O edital em momento algum impedia inscrição de mais de um filme, caso comum nos editais de audiovisual. Não há impedimento no edital à inscrição, apenas à participação e a inscrição de mais de um trabalho meu foi comunicada desde 19/08 por e-mail à própria Nélia Belchote, que respondeu ao e-mail informando que “estaria analisando naquela semana [em 19 de agosto] e se houvesse algum problema, avisaria.”
    O Juri não se deu ao trabalho nem de conferir as inscrições e, pior, ignorou o contato que mantive com a Sra. Belchote.
    A organização da Jornada foi quem, irresponsavelmente, submeteu à participação os dois filmes que inscrevi “Antálgico” e “Vale do Piancó # Alívio”. Alem de arcar com a divulgação, nós, inscritos, temos que arcar com o processo de curadoria?

    Assim, gostaria de manifestar publicamente meu repúdio à mostra baiana, que agiu com injustiça para tentar compensar sua irresponsabilidade e seus equívocos.




    Atenciosamente,
    Antônio Ferreira Neto.

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  2. Ps: Tenho uma Nota sobre os processos em torno da 39ª Jornada Internacional da Bahia.
    Se alguém quiser algum detalhe maior, pode entrar em contato e mandar e-mail que encaminho os e-mails que cito na nota, quando da conversa com Nelia Belchote, diretora da Jornada.

    Tonyferreiro@hotmail.com

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